quinta-feira, 24 de março de 2016

Matilde


Matilde está no coração dos portugueses. E de uma forma muito básica, esta frase quase resume o panorama português dos últimos anos: poucos nomes têm tido a força de desbravar o ranking português de nomes femininos e colocar-se confortavelmente nas primeiras posições por vários anos consecutivos. Matilde fê-lo e certamente marcará esta nova geração! Curiosamente, apesar de ser um nome encantador em Portugal, no Brasil são poucos os que lhe reconhecem beleza e ainda menos os que o utilizam.

O nome em si não é uma invenção moderna, muito pelo contrário. É um nome antiquíssimo que foi importado para Portugal no início do Reino. De uma forma simples, Matilde advém do antigo germânico Mahthildis, um nome feminino muito antigo que consiste na aglutinação dos elementos linguísticos maht (força) e hild (batalha), significando, por isso, força na batalha ou força no combate. Uma das muitas variações de Mahthildis era precisamente o nome Mahald, o nome da filha de Amadeus II, senhora esta que viria a celebrar casamento com D. Afonso Henriques e tornar-se na primeira Rainha de Portugal. Como o nome era difícil de pronunciar (por causa do h aspirado), rapidamente derivou o tão famoso Mafalda que se tornou na forma popular de Matilde, da mesma forma que, por exemplo, Tomé é a forma popular de Tomás, que é a variante mais erudita.

Também ao consultar várias bases de dados antigas como as da Associação de Amigos da Torre do Tombo ou do Arquivo Regional da Madeira, rapidamente constatamos que Matilde era um dos nomes mais cobiçados do nosso povo, sobretudo a partir do século XVIII. No entanto, como era de tal forma apreciado, o nome facilmente extrapolou o seio das classes aristocráticas e tornou-se num nome transversal a todas as camadas da sociedade. Num estudo apresentado aqui no Blog sobre os Nomes Aristocráticos mais comuns do século XIX, Matilde consta como o 9º nome mais utilizado do século, bem ao lado de nomes como Amélia, Antónia, Joaquina e Júlia. No que concerne compostos eram também muito apreciados: Matilde Augusta, Matilde Adelaide, Matilde Isabel, Maria Matilde, Adelaide Matilde e Joaquina Matilde.

Mais tarde, no século XX é possível constatar através dos dados do SPIE que o interesse pelo nome começou a esfriar, mantendo uma média de 100 registos anuais de meninas com este nome até o início da década de 50, sendo que a partir daí Matilde continuou em decréscimo até que com a entrada no novo século o interesse por este nome foi reanimado. Muitas vezes isto acontece: um nome torna-se incrivelmente popular, depois o interesse desaparece durante décadas, só para ressurgir muitos anos depois. Aconteceu com Matilde e muitos outros, poderá vir a acontecer com, por exemplo, Alice, Amélia, Antónia, Elisa ou Emília.

Nos nossos dias, em 2013, em Portugal nasceram 1997 Matildes como primeiro nome, sem contar com as Matildes que tiveram nome composto, num total de 110 diferentes combinações de nomes, sendo as cinco mais comuns: Matilde Sofia (89), Matilde Maria (59), Matilde Filipa (46), Matilde Alexandra (44) e Ana Matilde (23). Nesse ano Matilde encontrava-se em 2º lugar no ranking português, onde continuou no ano seguinte, com 2062 registos, sendo que os compostos mais comuns nesse ano se mantiveram os mesmos (alterando o número de registos), exceto a substituição de Ana Matilde por Matilde Isabel. No ano a seguir, em 2015, Matilde desce para o 3º lugar do ranking feminino português depois de uma subida notável de Leonor. Ainda assim, em 2015, foram registadas 1889 meninas com este nome, não tendo sido divulgada até à data a lista de registos dos nomes compostos.

No Brasil, de acordo com o censo demográfico do IBGE, a frequência de Matilde é de 30.270 pessoas, tendo o nome atingido seu auge de popularidade durante a década de 50. Após esse período seus registos foram diminuindo ano após ano. Em 2015, em São Paulo, foram registadas apenas duas meninas assim chamadas. Realmente, Matilde é um nome de contrastes entre Brasil e Portugal.

É impossível negar a popularidade atual deste em Portugal e desafio os leitores portugueses a contabilizarem o número de Matildes que conhecem neste momento nos seus círculos familiares e sociais. Provavelmente, “zero” será uma resposta difícil de encontrar, sobretudo se lida com crianças. O problema dos nomes muito populares é, precisamente, a perda da exclusividade. Contudo, se este pormenor não o afeta, encontra em Matilde um nome perfeitamente usável e agradável com uma excelente aceitação social.

Ao longo da História, Matilde tem sido um nome encontrado com alguma facilidade no seio de famílias aristocráticas e/ou reais dos países europeus, com destaque para a Rainha Matilde, mulher de Guilherme, o conquistador. Já antes, no século X, Matilde fora o nome da mulher do Rei Henrique I do atual território da Alemanha. Matilde de Shabran foi também o nome de uma ópera italiana criada por Rossini. Como referências mais recentes, destaca-se a figura de Matilde Urrutia, a terceira esposa do poeta chileno Pablo Neruda, figura que inspirou a escrita da obra romântica 100 Sonetos de Amor. Dá-se destaque também à poetiza espanhola Matilde Camus, à matemática italiana Matilde Marcolli e à patinadora artística Matilde Ciccia.

Qual a vossa opinião sobre Matilde?


Fontes Consultadas:
Ana Belo (1997) Mil e tal nomes próprios, ARPEN/SP, Behind the Name, IBGE, IRN, NameBerry, Nomes e Mais Nomes, SPIE.

5 comentários:

  1. Detesto. Nem pensar nos tempos medievais me ajuda a pelo menos simpatizar.

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  2. detesto!!, mas o texto está muito completo. :)

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  3. Quando ouvi pela primeira vez este nome, em 2008. Achei interessante pois é medieval mas tão depressa me encantei quanto me desencantei quando comecei a ver Matildes por todo o lado. Agora acho um nome banal.

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