Mourana
é daqueles nomes interessantíssimos que se nos saltam à vista, entre tantos
outros que constituem a lista portuguesa de nomes autorizados pelo IRN. O meu
primeiro instinto foi associá-lo à palavra mouro,
que sempre foi usada para designar os povos muçulmanos que habitavam a
Península Ibérica antes da Reconquista Cristã e antes, até, da formação de
Portugal. Este é um período da História particularmente fascinante, ainda
estamos a tentar perceber quem nós – portugueses – somos e basicamente o que
queremos fazer da vida com tanto território por conquistar ao sul.
Algumas fontes que consultei davam a
indicação de que Morana (a grafia é
muito parecida e podia ser uma variante deste nome) era um dos nomes atribuídos
a uma deusa nórdica, mais conhecida por Marzanna
(em polaco), que estaria associada aos conceitos de morte e renascimento,
representando o inverno e os pesadelos. Apesar de deusa, na sua religião, não
ser das mais apreciadas, sendo, por oposição, das mais temidas, não posso
deixar de achar que a ideia de Mourana
poder estar associada a uma Deusa do Inverno é absolutamente extraordinária e
bonita!
No entanto, e procurando ser realista, esta era apenas uma hipótese que levantei
no processo de investigação pela origem do nome e, hoje, acho que não é muito
viável.
Curiosamente, os novos caminhos de
investigação que segui levaram-me diretamente ao meu ponto de partida: aos mouros. Mas será que Mourana significaria, de alguma forma, moura? As mouras assumiram um papel curiosíssimo
no folclore português durante séculos, tendo o povo se referido a elas como
seres sobrenaturais que enfeitiçavam os homens e guardavam grandes e preciosos
tesouros! São inúmeras as lendas medievais que se teceram em torno destas mouras encantadas, muitas delas ainda
hoje em dia conhecidas, outras esquecidas pelos tempos e outras, ainda,
perpetuadas em nomes de cidades, vilas, aldeias e até nos nossos sobrenomes. Realmente,
a cultura popular é de uma riqueza maravilhosa, daí o meu entusiasmo com a
possibilidade de Mourana estar associado
às mouras. Contudo, a ligação provou-se ser outra.
Na verdade, o primeiro registo conhecido
de uma Mourana data do início do século
XIII, quando o rei português D. Afonso III termina a reconquista cristã na zona do Algarve. Conta-se que lá vivia um
alcaide e sua filha, Madragana, cuja
beleza e feitio encantaram o nosso rei que fez dela sua amante e com quem criou
linhagem, ainda que não tenha sido oficialmente reconhecida. Para poder
conviver e manter uma relação com o rei de Portugal esta jovem teve de ser
batizada e D. Afonso escolheu-lhe o
nome Mor Afonso, um nome muito comum nessa época conforme já tivemos
oportunidade de abordar aqui no Blog, acrescentando-lhe o seu nome como gesto
de carinho e proteção. Nas crónicas portuguesas mais antigas é comum que Madragana seja tratada por Mor, por Mouroana, Mourana ou Madraganil. De facto, o seu nome não era
Mourana, como andámos à procura, mas no seio destes documentos que comprovam a
sua existência, encontra-se a justificação de que estas designações alternativas
se tratam de nomes cristãos e que Mourana
era, na verdade, uma variação dos nomes Ouroana
ou Aureana, numa aglutinação criativa
com o seu nome original e com o seu novo nome de batismo.
Resumindo e concluindo, Mourana trata-se de uma variação de Ouroana, um nome muito conhecido e
utilizado pela população portuguesa na Era Medieval, que tem as suas raízes na
palavra latina aurum, que significa ouro. Por sua vez Mourana significa algo como aquela que é feita de ouro, aquela que vale ouro. Acrescenta-se que desta palavra
surgiram muitos outros nomes próprios, alguns deles muito conhecidos e
apreciados na atualidade: Aura, Áurea, Aurélia, Aurora, Oriana, Orieta e Oureana.
No SPIE não é possível encontrar nenhum
registo deste nome em Portugal entre os anos de 1920 e 1980, contudo, como o
nome continua presente na lista, acredito que depois de 1980 tenha nascido
alguma Mourana em Portugal ou, pelo
menos, tenha sido feito um pedido de admissão do nome. Fica a grande questão no
ar! Numa perspetiva mais recente, sabe-se que em 2013, 2014 e 2015 não existiu
nenhum registo de menina com este nome, uma realidade que se extrapola também
para o Brasil.
Numa altura em que nomes com a terminação –ana
já não seduzem muitos corações portugueses e brasileiros, Mourana pode ter dificuldade em se destacar, sabendo de antemão que
também é raríssimo e poucas pessoas devem existir com este nome; para não falar
que quase se trata de um exclusivo português (mas de fácil internacionalização,
creio). No entanto, olho para este nome com encanto e vejo nele muitas
potencialidades: é forte, bonito, carismático e exclusivo. Tem um toque exótico
que lhe atribui muitos pontos a favor e tem a possibilidade de gerar
diminutivos muito queridos, sendo o meu favorito, o carinhoso e medieval Mor.
Que acharam de Mourana? Simpatizam?
Que acharam de Mourana? Simpatizam?
Fontes
Consultadas:
Behind
The Name, NameBerry, Wikipédia (Marzanna), IRN, SPIE, ARPEN/SP, Geni – A Heritage
Company, O Blog dos Nomes (Áurea, Aurora e Oriana), Pizarro (1999) Linhagens
Medievais Portuguesas
Joana, meus parabéns pelo excelente post! Muitíssimo bem apresentado e pesquisado! Conseguiu descobrir de ondem vem o misterioso Mourana, confesso que fiquei curiosa em saber o desfecho. O modo como o post foi conduzido, prendeu minha atenção até o final! Adorei! O nome Mourana me era completamente desconhecido, gostei muitíssimo de saber mais sobre ele, mas a minha preferência ainda é por Morana, apesar dos nomes não terem ligação.
ResponderExcluirNão gostei.
ResponderExcluirAdorei a foto e adorei saber mais sobre até nome.
ResponderExcluirA minha Filha chama-se Mourana nasceu em 2001. Andei muito tempo a procura da origem do nome. Fiquei muito feliz por finalmente saber. Muito obrigada
ResponderExcluirola o meu nome é mourana e eu fui nascida em 2001 e estou bastante orgulhosa te ter um nome tao unico como este
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