segunda-feira, 14 de março de 2016

Amaro


Desde pequenina fui envolta em milhares histórias sobre o mar. Fossem elas sobre o poder místico dos seres que o habitam ou sobre a época áurea dos Descobrimentos, todas estas histórias me cativavam e deixavam maravilhada. Entre uma dessas muitas histórias, contava a minha avó a história de Santo Amaro, o santo que protegia os marinheiros e pescadores trazendo bonança à viagem. Talvez por isso e por viver numa terra em que se dava tanta importância à vida do (e no) mar, sempre encarei este Amaro como um tipo muito fixe, um grande benfeitor que nos servia lindamente.

O nome, em si, é bastante bonito e envolve um misto de seriedade e descontração que acho muito curiosos num nome próprio. Também ajuda, realmente, associar este nome ao Oceano e a um dia solarengo de verão, como são as recordações que tenho de uma terra cujo santo é o seu padroeiro, uma terra muito próxima do lugar onde cresci na Ilha da Madeira. Portanto, não só Amaro é um nome familiar para mim, como tem uma beleza particular que aprecio muito e se prende com a sonoridade. Se já leu alguma publicação da minha autoria sobre algum nome deste género, verá que isto é consistente: os nomes que têm aquela sonoridade do “r” entre vogais são muito atrativos para mim, como é o caso de nomes como Ari ou Lira.

Existem várias teorias acerca da origem deste nome. De acordo com o Behind the Name, Amaro pode ser a variante espanhola do antigo nome germânico Audamar que comunga os elementos aud (fortuna, riqueza) e meri (famoso), o que atribui a Amaro o hipotético significado de tesouro famoso – e que é um filho senão um tesouro? Outra teoria atribui a origem de Amaro ao latim, apontando como significado amargo, o mesmo significado partilhado, por exemplo, pelo nome feminino Mara. Por fim, uma última teoria é a de Amaro deriva de Maurus e, portanto, se trataria de um nome com elos geográficos, pois significaria aquele que é da Mauritânia ou moreno ou ainda de pele escura, conforme explica a Maria Pilar Monteiro na sua publicação sobre Maura.

Ao longo dos anos, Amaro não foi inexistente em Portugal, sendo que durante o século XX o seu uso rondava os 30 registos anuais. Hoje em dia a realidade é diferente, sendo que o nome tem caído no esquecimento. Em 2013, Amaro foi registado 3 vezes como primeiro nome, tendo sido também utilizado nos compostos Amaro Augusto, Luís Amaro <3, Mariana Amaro, Rafael Amaro e Santiago Amaro. No ano seguinte, foi registado nos compostos Amaro William, António Amaro, Clara Amaro, Daniel Amaro, Ilídio Amaro, Joana Amaro, Luana Amaro e Tomás Amaro. Em 2015, não foi registado nenhuma vez, nem em Portugal, nem no Estado de São Paulo no Brasil, segundo registos do IRN e do ARPEN/SP.

Pessoalmente, acho-o um nome muito interessante, com uma sonoridade muito agradável, internacional e não peca por estar associado a nenhuma geração em particular, como acontece com alguns nomes que se popularizaram em determinados anos. Como manteve sempre um perfil discreto, Amaro combate as fronteiras do tempo e pode ser entendido como um nome contemporâneo, se assim o quisermos. Um pormenor muito engraçado sobre este nome está, mais uma vez, ligado ao santo do mesmo nome, um peregrino no Caminho de Santiago (no século XIII), que se dizia ter viajado no seu barco até ao céu. Que bonito!

Que dizem de Amaro? Reconhecem-lhe beleza?


Fontes Consultadas:
Ana Belo (1997) Mil e tal nomes próprios, ARPEN/SP, Behind the Name, IRN, José Viale Moutinho (1949) Lendas das ilhas da Madeira e do Porto Santo, NameBerry, SPIE.

3 comentários:

  1. Sim, Amaro tem sua beleza, mas acho que fica melhor como segundo nome. Não sabia de sua ligação com o mar, gostei de saber!

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  2. Meu tataravo chamava amaro francisco

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