sábado, 9 de janeiro de 2016

Jerónimo


Certamente não serão muitos os Jerónimos que pessoalmente conhecemos. O nome tem vindo a tornar-se uma raridade nas nossas realidades nas últimas décadas, cingindo-se o seu uso a uns escassos registos anuais. Mas nem sempre foi assim.

Uma pesquisa relativamente rápida às bases de dados portuguesas, como as da Associação Amigos da Torre do Tombo, dá-nos conta de uma quantidade significativa de Jerónimos nascidos, batizados e casados em Portugal nos séculos passados, particularmente entre o século XVII e o século XIX. No abrir do século XX, Jerónimo nunca foi registado menos de 40 vezes por ano, chegando a atingir números que hoje seriam impensáveis como os 92 registos em 1933 e 1950 e os 97 registos no ano de 1952! E se formos a comparar os números com os da realidade atual, o uso de Jerónimo equipara-se atualmente ao uso de Sebastião em Portugal, que se encontrava em 2014 na 56ª posição do ranking dos nomes masculinos mais utilizados.

Contudo, e apesar de esta ser uma análise interessante e que nos permite refletir acerca de vários aspetos da moda na arte de nomear, temos de ser realistas, e a verdade é que Jerónimo nos últimos anos não se tem apresentado como um opção viável para as famílias portuguesas e brasileiras. No Brasil, evaporou-se dos tops há décadas e, em Portugal, em 2013 nasceram apenas 3 meninos assim chamados, sendo que em 2014 apenas nasceu um.

Na verdade, Jerónimo e Jeremias têm vindo a ter o mesmo nível de aceitação por parte da nossa população, o que em leva a questionar se as razões do seu uso pouco frequente prender-se-ão com questões sonoras! No passado, porém, Jerónimo era muito mais bem aceite que Jeremias, talvez pelo seu grande vínculo religioso ao santo cuja história se desenrola em torno de um leão ferido que, com o seu auxílio, se cura e se torna um companheiro do santo, como se de um animal doméstico se tratasse. Esta lenda medieval, escrita por um croata no século XV, tornou-se mundialmente famosa e pode ter contribuído para a devoção ao santo e a apreciação do seu nome. São Jerónimo, a propósito, foi o responsável pela tradução da Bíblia para o Latim e também o padroeiro dos estudantes, bibliotecários e dos arqueólogos! Em sua honra foi criada uma Ordem Religiosa, que em Portugal foi responsável pela construção do majestoso Mosteiro dos Jerónimos, no século XVI.

Trata-se de um nome de origem grega, Hieronymos, compostos pelos elementos hiero (sagrado) e onoma (nome), ou seja, o nome sagrado! Um significado bem diferente daqueles que estamos habituados a ouvir e, talvez, particularmente interessante para aqueles que gostam de onomástica! Pessoalmente, acho-o um nome forte e marcante e não encontro qualquer objeções ao seu uso nos nossos dias. Gosto particularmente da ideia de um Jerónimo pequenito! Acho-o muito melodioso e com carácter! Embora a versão anglófona mais conhecida seja Jerome, que originou o diminutivo e também nome Jerry, acredito que Jerónimo não teria grandes dificuldades em se adequar a um país de língua inglesa.

Em Portugal destacam-se duas figuras muito mediáticas: Jerónimo Martins, empresário e multimilionário português e Jerónimo de Sousa, político português e líder do Partido Comunista. Num contexto internacional, Jerónimo era também o pseudónimo de Bosch, um pintor e gravador holandês dos séculos XV e XVI. Mais atualmente, a banda australiana, Sheppard, lançou uma música intitulada Geronimo, que conta com mais de 20 milhões de visualizações no youtube e será, certamente, do nosso conhecimento!

Poderá Jerónimo regressar em grande?

3 comentários:

  1. Em grande não sei mas acho que poderá ser mais usado. Eu gosto muito!

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  2. Não conhecia o significado de Jerônimo, achei bonito!

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  3. São Jerônimo também é padroeiro dos tradutores e secretários...
    O significado é muito bonito. Cai como uma luva para o santo.
    Eu não usaria o nome, mas interessante o post.

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