domingo, 6 de dezembro de 2015

Telmo


Passei a minha infância completamente fascinada com as milhares de histórias e lendas que a minha madrinha, entusiasta da Literatura Clássica, me contava. Penso que namorámos um pouco de tudo, desde Homero, passando por Camões e explorando mitos populares dos primórdios de Portugal! E entre essas histórias, lá vinha o divino Fogo de Sant’Elmo, que socorria os marinheiros durante as tempestades mais tenebrosas que se possa imaginar!

Na verdade, o chamado Fogo de Sant’Elmo não é nada mais do que um fenómeno elétrico que ocorre quando a polarização do ar se torna tão díspar que provoca o aparecimento de uma luz em tons de azul, que em muito se assemelha a uma chama, nos mastros dos navios durante as tempestades. É uma explicação científica, simples e desprovida de grandes atos de magia ou intervenção divina, como eu acreditava e como acreditaram durante séculos os antigos marinheiros! Na Antiguidade Clássica, este fenómeno era atribuído à intervenção dos deuses gregos Castor e Pólux, sendo mais tarde remetido para a intervenção de Santo Elmo, santo cristão protetor dos marinheiros.

O que é que isto tem que ver com Telmo? É relativamente simples. No germânico antigo, existiam vários nomes começados pelo elemento helm, que significava capacete ou proteção. Com a popularização deste elemento linguístico rapidamente se propagou Elmo como nome próprio. Paralelamente, em Itália, o nome Erasmus ganhou o diminutivo Ermo que também com muita facilidade se transformou em Elmo, que viria a ser considerado nome próprio nos países onde vigorava o latim como língua oficial. Entretanto, através da santificação de um homem de nome Erasmus, a população começou a referir-se a ele como Santo Elmo que não tardou a originar o nome Santelmo, ainda hoje aceite em Portugal, que consiste na aglutinação das palavras Santo e Elmo, do mesmo modo que São Tiago originou o nome próprio Santiago. E onde fica Telmo no meio disto tudo? Telmo é precisamente um diminutivo de Santelmo que se popularizou entre nós, sendo atualmente a versão mais corrente deste nome em Portugal e no Brasil.

Telmo obteve maior expressão em Portugal a partir da década de 70 do século XX, ultrapassando a fasquia dos 100 registos anuais. Em 2013 foi registado 28 vezes e em 2014, 24, sendo o composto mais comum Telmo Filipe. Apesar de já não ser popular e de nunca ter encantado em demasia os português, acredito que este nome continua a ser uma opção adequada e, sobretudo, pouco intuitiva. Sem dúvida, Telmo em 2016 será uma escolha diferente, mas rodeia-se de muitas histórias bonitas que não deixam que a chama do nome se apague! É forte, é sonoro e não apresenta dificuldades na adaptação internacional.

A maior referência é o filósofo, escritor e professor português António Telmo (sim, era conhecido pelo composto), destacando-se também, no Brasil, o ator Telmo de Avelar, conhecido pelas muitas traduções que fez dos filmes da Disney para o português do Brasil!

Considerariam o uso de Telmo?

5 comentários:

  1. O único Telmo que conheci tinha a minha idade e era - pelo que vi - muito calmo e simpático. Sempre que penso em Telmo lembro-me dele, mas não gosto.

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  2. não gosto nada de Telmo , mas adorei o texto , parabéns :)

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  3. Ótimo texto Joana, parabéns! Não conhecia a história do nome Telmo, achei muito interessante! O nome em si não me atrai, mas sabendo mais sobre ele passei a simpatizar.

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  4. Não gosto de Telmo e muito menos de Telma. Mas concordo que também me transmite calma, o que conheci era assim.

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  5. Gostei do texto e sobre o fogo de Sant'Elmo! Acho um nome bonito e e o apelido Tel lembra um pouco Teo. É um nome a ser revivido. É interessante. Quanto a Telma, eu não gosto.

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