Ondina

Em 1566, o médico e alquimista Paracelsus escrevia a sua obra Tratado sobre os Espíritos Elementais, onde apresentava o nome Undina para designar os espíritos mitológicos que habitavam as águas. A ideia tornou-se tão popular que originou inúmeras histórias sobre criaturas místicas, sempre no feminino, de nome Ondina. Algumas destas lendas foram registadas e até aos nossos dias sobreviveu o registo feito pelos famosos irmãos Grimm, duas histórias conhecidas como A Ondina e A Ondina do Lago, sendo esta última homónima da obra escrita por Teófilo de Braga, em 1865. Esta obra portuguesa relata a história de uma donzela francesa que se apaixona por um cavaleiro, que vem a descobrir ser seu irmão. Um romance marcado pelo drama e pela tragédia, num mundo medieval meticulosamente criado pelo génio português.

O nome em si, Ondina, deriva da palavra em latim unda, que significa onda. A aglutinação do sufixo –ina, valeu-lhe o significado pequena onda, bem mais querido, acolhedor e emocionante. Considero este nome muito delicado, mas a letra O inicial dá-lhe uma sonoridade muito particular e marcante, uma Ondina dificilmente passaria desapercebida, até pela raridade do nome! Seja como for, é inegável a forma como a arte o tratou com carinho, os poetas inspiraram-se em Ondina para lançar as suas redes poéticas e criar obras-primas e também os pintores não o esqueceram - recomendo o meu pintor favorito John William Waterhouse, que em 1872 pintou Ondina (disponível na internet), sempre acompanhada pelos elementos aquáticos. Mais recentemente, foi lançado um filme irlandês protagonizado pelo ator Colin Farrel (Ondine, 2009) e a série televisiva australiana Mako Mermaids escolheu o nome Ondina para uma das sereias que constituíam o grupo de personagens. E pensando aqui para os meus botões, talvez Ondina fosse um nome mais apropriado para a personagem do filme da Disney A Pequena Sereia do que propriamente Ariel, apesar de também ser bonito.

Nos últimos anos, Ondina não tem vindo a ser escolha dos portugueses, mas durante todo o século XX rondou os 20 registos anuais. A Ondina portuguesa mais conhecida apresenta-se apenas como Dina, a cantora de Amor de Água Fresca. É um nome bem místico que emana algum mistério e transcendentalidade.

Joana Recharte.

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